segunda-feira, 15 de abril de 2013

BIBLIOTECA MUNICIPAL DE CASTELO BRANCO: Exposição de Livros Pop-Up

BIBLIOTECA MUNICIPAL DE CASTELO BRANCO: Exposição de Livros Pop-Up:

No âmbito das comemorações do Dia Mundial do Livro, a Biblioteca Municipal de Castelo Branco recebe a exposição de Livros Pop-Up no próximo dia 17 de Abril.

Cedida pela Fundación Germán Sánchez Ruipérez no âmbito do “Projeto Net” cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (POCTEP 2007-2013) estará patente ao público até ao dia 31 de Maio.

Esta mostra vem dar a conhecer o mundos dos livros pop-up.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Sobre e a partir de O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO



Teixeira de Pascoaes terá dito, aquando da implementação de um outro qualquer acordo ortográfico anterior ao que agora provoca em nós tantos momentos de reflexão e alguns de preocupação, que a perda do y na palavra abysmo era desprovida de qualquer lógica, se não absolutamente ilógica e irreparável, pelo facto de ser o y o traço distintivo que dava à palavra a profundidade subjacente à ideia que veicula.
Se acreditarmos em Saussure, e só nos resta acreditar atendendo a que Ferdinand de Saussure é, nem mais nem menos, o pai da linguística moderna, o signo linguístico (a palavra) é imotivado, querendo isto dizer que não há nada na forma que sugira o sentido. E assim sendo, o que Teixeira de Pascoaes afirma quanto à palavra abismo não é mais do que uma, mui respeitável, opinião pessoal sem fundamento científico.
Estaremos todos de acordo, a não ser, quiçá, o governo da nação, que o país não se encontra à beira do abismo, mas, sim, dentro dele e há muito tempo! Trata-se portanto de um grande abysmo, com y para enfatizar a profundidade, que parece não ter fundo. Quando bateremos no fundo? Não o sabemos. Sabemos é que o baque vai ser tremendo… Mas parece ser um baque necessário, para que a queda livre termine de uma vez por todas. Não podendo ir mais para baixo, porque nos espipámos no fundo, só nos resta, depois de tomar novo ar para ganhar fôlego, encetar a escalada das paredes do buraco que durante tanto tempo assistiram à nossa rota descendente.
Muito se tem falado, uns a favor, outros contra, do novo acordo ortográfico, que afinal já não é assim tão novo, porque data de 2009. A implementação deste acordo, como a de qualquer outro, obriga a alterações, que nem todos estão mentalmente disponíveis a assumir. Daí a controvérsia. Os seus proponentes dizem que muitas das alterações assentam numa base fónica, argumentando-se que, se o que não se ouve não se escrever, se está a descomplicar a ortografia. Nem sim nem nim, quanto a mim. Não vou dizer taxativamente que a palavra semirreta, que o novo acordo deu à luz – ia dizer pariu, mas arrependi-me a tempo- tenderá a ser lida como tantas outras que terminam em eta, como marreta, forreta, caneta, perneta, maneta… Porém, se tal acontecer, tal haverá de provar que afinal o que não se lê também faz falta, e dará uma certa motivação à palavra, que a mim, assim pronunciada, me sugere mais uma qualquer arma de arremesso “ atira-lhe coa semirreta” ou “dá-lhe uma semirretada”. Então e o h inicial, que não é pronunciado, por que é que o acordo não o elimina? Não o elimina porque não. E, por um lado, ainda bem, uma vez que o h inicial é ponto de partida para uma regra do acordo: antes de palavras iniciadas por h, os prefixos são delas separados por hífen, mesmo o prefixo co, que quase ganhou imunidade ao hífen. Veja-se a forma co-herdeiro e não se considere a forma coonestar como exceção porque esta é uma forma latina.
Há, na verdade, incongruências no acordo que podem lançar confusão no espírito do normal utilizador da ortografia. Por exemplo, no caso das palavras justapostas com preposição ou pronome, ou outro utensílio gramatical, diz o acordo que estas, as ditas locuções, perdem o hífen. Contudo, de imediato apresenta uma série de exceções, algumas compreensíveis porque subordinadas a uma regra, a de que palavras que designem espécimes botânicos ou zoológicos mantêm o hífen, e outras só porque sim, o que torna bem mais difícil a escrita escorreita. Nestes termos, o acordo obriga a escrever com hífen palavras como andorinha-do-mar ou mal-me-quer e todas as que, como elas, têm como referente exemplares zoológicos ou botânicos, como, por exemplo, reigrás-dos-ingleses ou rei-do-mar (sinónimo de pica-peixe). Tudo normal, tudo bem, se é regra, cumpra-se. Todavia, já é muito mais difícil compreender e aceitar sem qualquer reticência ou renitência ou penitência, dependendo do grau de rejeição, as exceções expressamente referenciadas no acordo, num total de sete, o que num acordo que pretende descomplicar, só complica. Exemplificando, porque cargas de água COR-DE-ROSA terá de continuar a grafar-se com hífen, quando COR DE LARANJA o perdeu? Eu até nem compreendo muito bem como é que os responsáveis de PSD ainda não vieram a terreiro manifestar o seu descontentamento pela deferência ao rosa… E porque é que será que À-QUEIMA-ROUPA ou AO-DEUS-DARÁ ou MAIS-QUE-PERFEITO ou ÁGUA-DE-COLÓNIA, ARCO-DA-VELHA, PÉ-DE-MEIA, hão de merecer manter a hifenização se as compararmos com tantas outras palavras que a perdem, como, a título de exemplo, pé de atleta ou moço de recados ou fim de semana.
Claro que não vou pretender reclamar a reifenização de coa das pichas, já que é esta uma palavra apenas do vocabulário passivo da maior parte das pessoas, e de muito poucas. Também qual dos comuns dos falantes é obrigado a saber que os pescadores do Mondego utilizam uma rede típica e ainda por cima que essa rede se chamava, antes do acordo, côa-das-pichas? Mas há tantas outras palavras diariamente utilizadas por todos que mereceram tratamento diferente sem que se encontre justificação plausível… Será que teremos que decorar as sete exceções expressas no acordo? Não seria mais funcional admitir que estas exceções deixavam de o ser?
Para terminar, e porque vem a talho de foice (sem qualquer hífen…), já que a utilizei no parágrafo anterior, consideremos a palavra reifenizar, formada a partir da junção do prefixo re com a palavra plena hifenizar. Será que se escreve como eu a escrevi? Não será melhor grafá-la re-hifenizar, respeitando a regra da hifenização antes de h? Nenhuma das hipóteses é considerada no dicionário… Mas o que é facto é que o prefixo re e a palavra hifenizar andam por aí e não há nada que nos proíba de juntar as duas, para transmitir a ideia de voltar a hifenizar. A julgar pelo comportamento do prefixo re, que não aparece em nenhuma situação separado da palavra seguinte, e que provocou a perda do h inicial daquelas com as quais se juntou sem hífen, como reabitar, reabituar, reabilitar, etc, podemos ser levados a concluir que nestas situações, não contempladas no dicionário, o prefixo re se deve fundir com a palavra seguinte depois de esta perder o h inicial. Veja-se, também, reigienizar (no sentido de voltar a higienizar, igual a relimpar, que também não vem nos dicionários). Apesar de uma possível tendência à leitura com ditongação…
Estas considerações têm apenas o intuito de confundir… Porque a confusão leva à discussão e da discussão há de fazer-se luz. E, já agora, cuidado com os bicos de papagaio, os maus, sem hífen! Não os outros, os com hífen, porque esses não fazem mal a ninguém.                   
Joaquim Rodrigues Dias